Por Gonzalo Fernández, CEO – Ibernova
Durante anos, ouvimos falar sobre transformação digital como sendo um fim em si mesmo. Como se o simples facto de se integrar a tecnologia nas empresas garantisse automaticamente a sua competitividade. No entanto, a realidade é muito diferente: a digitalização não é um destino, é a autoestrada que nos leva mais rapidamente aos nossos objetivos empresariais.
Hoje, a principal diferença não está na empresa que dispõe de mais aplicações ou maior investimento em TI, mas sim na que tem a capacidade de transformar a digitalização num acelerador de negócios.
A Digitalização como meio, não como um fim
Uma PME Industrial que investe em software não o faz por uma questão de tendência ou pressão externa: fá-lo porque procura ser mais competitiva, crescer em novos mercados, responder com agilidade às exigências regulamentares ou antecipar-se à concorrência.
É por isso que devemos mudar a forma como falamos sobre digitalização. Não se trata de um “projeto” que começa e termina. É um ativo para ganhar resiliência, eficiência e liderança no mercado. E, acima de tudo, é uma decisão que não pertence apenas à área de TI, mas ao CEO e ao seu Comité de Direção.
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A integração: de peças soltas a uma plataforma unificada
O grande erro de muitas organizações tem sido acumular ferramentas desconectadas. Um ERP, por um lado; um sistema de controlo de produção (MES), por outro; um software de projeto isolado da restante organização; e assim por diante. No final, criam-se “ilhas de informação”, que atrasam a tomada de decisões.
A verdadeira vantagem competitiva acontece quando todos esses sistemas estão integrados numa única plataforma:
- ERP: disponibiliza uma visão global dos recursos, planeamento e gestão financeira;
- Sistema MES: conecta a fábrica à estratégia, medindo a eficiência operacional, em tempo real;
- CAD/CAE/CAM: facilitam a inovação ágil em projeto e fabrico, reduzindo os tempos de desenvolvimento;
- PDM/PLM: asseguram a rastreabilidade e conformidade normativa, ao longo de todo o ciclo de vida do produto.
Quando estes sistemas funcionam em conjunto, os gestores dispõem de indicadores claros e fiáveis, para antecipar problemas, tomar decisões e transformar cada desafio numa oportunidade de crescimento.
A regulamentação como motor de competitividade
Muitos gestores veem as regulamentações — fiscais, ambientais, de rastreabilidade ou de segurança — como um obstáculo. No entanto, estou convencido de que são uma alavanca de diferenciação.
E porquê? Porque, quando dispomos de sistemas flexíveis e integrados, a empresa não se limita a “cumprir”, mas vai mais além. A regulamentação torna-se uma oportunidade para demonstrar qualidade, rastreabilidade e transparência. Ou seja, um argumento de confiança, para clientes e parceiros, podendo ser utilizada como alavanca de evolução.
Responder em tempo real: a resiliência aplicada
Num contexto global e em constante mudança, o valor acrescentado de uma empresa já não reside na dimensão da sua infraestrutura ou equipa, mas sim na sua capacidade de responder, em tempo real, a qualquer desafio – interno ou externo:
- uma perturbação na cadeia de abastecimento;
- uma nova regulamentação inesperada;
- uma queda pontual na produtividade da fábrica.
Se a informação estiver fragmentada, a resposta será lenta e dispendiosa. Mas se o CEO e a equipa de gestão tiverem uma visão integrada, poderão tomar decisões rapidamente, minimizar riscos e avançar competitivamente. Essa é a verdadeira resiliência empresarial.
Liderar num mercado globalizado
A globalização, a diversificação da procura e as fusões empresariais elevaram a concorrência a um nível nunca antes visto. As PME Industriais não podem conformar-se em ser “seguidoras”. Precisam de agilidade e diferenciação como estratégias sustentáveis.
A digitalização, bem entendida, é o que permite a uma empresa industrial não só competir com multinacionais, mas também ganhar vantagem – graças à sua proximidade, adaptação cultural e integração com a legislação local.
Neste contexto, a digitalização deixa de ser uma despesa tecnológica para se tornar um acelerador de liderança.
Uma mensagem aos meus homólogos CEOs
Permita-me que me dirija diretamente a si, CEO que está a ler estas palavras. Não delegue a digitalização como se fosse uma questão técnica. É uma decisão estratégica. É sua responsabilidade liderar a forma como a tecnologia se adapta ao seu modelo de negócio e não o contrário.
Pergunte-se:
- Tenho uma visão clara de como a minha empresa está a operar a cada momento?
- Tenho indicadores fiáveis que me permitem antecipar e decidir rapidamente?
- Estou a transformar as mudanças regulamentares em vantagens competitivas?
Se a resposta for não, então a digitalização ainda não está a ser o acelerador de que necessita.
Em resumo: a digitalização como autoestrada para a liderança
Na Ibernova, temos a certeza: a digitalização não é um fim, é o meio que transforma objetivos em resultados, regulamentos em diferenciação e dados em decisões.
A verdadeira transformação acontece quando os sistemas estão integrados, as equipas alinhadas e o CEO assume um papel ativo na liderança da mudança. Só, então, a digitalização deixa de ser um discurso para se tornar um motor de liderança competitiva.
O futuro não pertence às empresas que mais investirem em tecnologia, mas sim às que a utilizarem para acelerar os seus negócios e liderar o rumo na próxima década.
“A inteligência consiste não apenas no conhecimento, mas também na capacidade de aplicar os conhecimentos na prática.” — Aristóteles